Não gosto de falar sobre política, isso é um fato. Mas o motivo que me leva a não falar de política não é por ser apolítico. Não falo de política porque dificilmente meu interlocutor, ou interlocutores, entenderão que o fato de eu ser a favor de um ou outro candidato, não me leva necessariamente a ser contra o outro. Apenas concordo mais com um lado, nunca desprezando o outro lado. Há anjos e demônios em todos os homens, porque então não haveria em partidos políticos?
Agora, passado o pleito e eleita a comandante da
nação por mais quatro anos, vejo que minha objeção em falar de política está
mais do que ajustada. Não preciso comunicar aos quatro ventos um voto ou minha
posição política, mas internamente tenho plena consciência de ter analisado de
forma clara e objetiva as propostas de ambos os candidatos (se é que podemos
chamar de propostas) e decido pelo que EU entendo ser o melhor. Assim como fiz
para governo do estado.
O que me
preocupa, passado o pleito, é que algumas pessoas não saibam respeitar a
democracia das urnas. Ou seja, se meu candidato não ganhou foi porque o teu
candidato agiu de má fé, com propagandas enganosas e difamatórias, e bibibi e
bababá. Como se ambos os lados da disputa não tivessem agido de forma
vergonhosa e ridícula. Quem levanta a mão para dizer que foi uma disputa limpa?
Tanto no governo do estado quanto no governo federal tivemos o pior exemplo de
democracia que poderíamos ter tido. Uma vergonha que espero não ter reflexo nas
futuras gerações de eleitores deste país.
E para completar a vergonha nacional, algumas
pessoas tornam público o seu destempero emocional, usando a xenofobia contra
nordestinos como válvula de escape. Li alguns eleitores falando em mudar-se
para Miami, inclusive. Um belo exemplo de democracia, não? Como se nordestinos
tivessem, sozinhos, decidido esta eleição. Lembrete, no Rio de Janeiro, terra
de intelectuais que vociferam contra o governo bebendo seu chopinho a
beira-mar, ou mesmo em Minas, reduto de democracia e terra de Tancredo, também
tivemos vitória da situação. Será que somente nordestinos tem culpa no cartório
ou a diferença de 1.200.000 votos nestes dois estados contribuíram? Estes dois
gigantes territórios eleitorais contribuíram e muito para manter a situação no
poder.
FHC e Collor ganharam mais votos no nordeste quando
eleitos. Será que os nordestinos tiveram culpa pela eleição dos dois? O eterno
pensamento simplista do antidemocrático diria que não, pois o sudeste amparou
estes votos. Bobagem. Ambos foram eleitos porque, numa época sem facebook,
twitter ou whatsapp, eram considerados os melhores para governar. Assim como é
simplista falarmos que todos que votaram no Aécio são filhinhos de papai, é
absurdo alocarmos a culpa da derrota da oposição aos votos dos nordestinos,
esquecendo que em muitos e importantes colégios eleitorais, a oposição também
foi derrotada.
Infelizmente, muita gente não soube respeitar a
vitória de um candidato pois obrigatoriamente isso passa pela derrota do outro,
e num país que se diz democrata, o despreparo emocional ainda aparece muito
mais do que o respeito a democracia. Achar que um pensamento diferente do seu é
uma imbecilidade, faz de você mais imbecil ainda.
De minha, parte, tenho a consciência tranquila de
que busquei o melhor para o meu país, e não pretendo me mudar para Miami como
alguns falsos moralistas. Pretendo buscar aqui o melhor para mim e para a minha
família, respeitando a todos e dando vivas ao pleito mais extraordinário dos
últimos 25 anos.
Parabéns aos vencedores e respeito aos vencidos.
Sinto apenas pelos abusos racistas, homofóbicos e
xenofóbicos de alguns. Algumas pessoas ainda não entenderam o que é democracia.
Outros são preconceituosos mesmo.