No livro Divina Comédia, de Dante Alighieri, a primeira
parte se chama “Inferno”, depois vem Purgatório e o Paraíso.
Mas por hora vou me deter no Inferno. No de Dante, óbvio...
Tu sabes que, segundo lendas, o inferno foi criado pela queda de
Lúcifer, que era o anjo preferido D’Ele. Lúcifer, aliás, quer dizer Vindo da
Luz. Que côsa, não??? E dizem amiúde que o tombo foi tão grande que o inferno
criou nove círculos concêntricos (concêntrico é uma palavra muito distinta) e
quanto mais graves os pecados, mais fundo o sujeito vai parar.
O primeiro círculo é o Limbo, onde ficam os pagãos ainda não
batizados e aqueles que nasceram antes de Cristo e também e-mails que o Dezã
recebia na antiga firma. Ou seja, pecados não tão graves assim. No último
círculo conhecido como Lago Cocite, ficam os traidores, pecado considerado
mortal por Dante Alighieri e pela minha mulher também.
Aqui abro um parêntese: Eu
tinha um amigo que era tão traidor, mas tão traidor, mas tão traidor, que queria
trocar o próprio nome para Judas. Fecha parêntese.
Quando Dante Alighieri retrata o inferno, ele se baseia no que
dizia Aristóteles sobre o conceito de justiça, onde devemos evitar modos como:
malícia, incontinência e bestialidade. E eis o ponto onde quero chegar:
bestialidade! Não me refiro aqui à bestialidade no sentido da pessoa ser uma
besta de tansa ou bocó, mas sim, no sentido de besta-fera, de violência física
ou verbal, e isso é preciso que se entenda.
Tenho acompanhado os inúmeros protestos que vem acontecendo pelo
país e os vários movimentos em que se originam cada protesto. É movimento Passe
Livre, Black Blocks, Grito dos Excluídos, Sem Terra, Sem Teto, Sem Dinheiro,
mascarados travestidos de Guy Fawkes
(aquela máscara do V de Vingança), ou usando camisetas para encobrir o rosto. E
a cada protesto a bestialidade se torna maior. Vandalismo se tornou a palavra
de ordem, e não mais reivindicar melhorias ou direitos sociais. Não, o que vale
agora é depredar. Patrimônio público? Quebraremos e picharemos. Ônibus e
trens? Incendiaremos. Agências bancárias? Depredaremos. Comércio local?
Saquearemos. Homens e mulheres reunidos como uma horda sanguinária, fazendo
vergonha às hordas bárbaras de Átila, o Huno, também conhecido como o “Flagelo
de Deus”. Hoje, infelizmente, uma parte do povo brasileiro se tornou o Flagelo
de Deus.
N’outro dia (é o segundo apóstrofo no
texto, tri...) vi uma reportagem sobre manifestações na França a favor de uma
menina, do Kosovo, que foi injustamente expatriada. Milhares de pessoas saíram
às ruas, pedindo ao governo que trouxesse ela de volta ao país, pois ela tinha
todas as condições de asilar-se lá e bibibi, e não houve nenhum tumulto, nenhum
quebra-quebra, nenhuma depredação. Jovens, adultos e velhos, todos com o único
intuito de não permitir uma injustiça, e nem por isso fazendo justiça com as
próprias mãos.
É possível reivindicarmos nossos
direitos sem quebra-quebra, sem arruaças, sem saques e roubos. Quem saqueia, depreda
e rouba, não está buscando seus direitos, mas sim usurpando o direito dos
demais, pacíficos, que buscam no diálogo a resolução dos problemas.
Quem sai para uma manifestação
disposto a esconder o rosto não pode ser reconhecido como manifestante. Deve
ser conhecido e reconhecido como baderneiro, saqueador e arruaceiro.
Respeito e sempre respeitei todos os
tipos de manifestação, seja passe livre ou movimento sem-terra ou o movimento
de translação que faz a terra girar. Mas não posso respeitar marginais que saem
de casa para promover quebra-quebra, incêndios e depredação, pois isso fere
diretamente o direito dos demais cidadãos, que querem sim melhores condições
sociais, mas respeitando a lei e a ordem.
O que me deixa mais preocupado é que
em breve teremos novamente eleições, e, talvez eu esteja errado, essas mesmas
criaturas que hoje saqueiam e depredam e incendeiam, venderão seus votos por um
botijão de gás ou uma conta de luz, ou um “carguinho” de assessor de alguma
coisa.
Quer reclamar? Vote em pessoas dignas
de sua confiança, e cobre destas pessoas as promessas que elas te fizeram na
campanha.
Caso contrário, como diria Dante
Alighieri: “Deixai aqui toda a esperança, ó vós que
entrais!”
E prepare-se para o inferno!
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