sexta-feira, 14 de junho de 2013

O dia em que minha filha nasceu... e eu também!!!!

Lembro como se fosse hoje o dia em que Júlia, a minha filha, nasceu. Parece até que acabei de sair novamente da sala de parto.
Estávamos em casa, eu e a Cris, e resolvemos dar uma caminhada. O obstetra falou que isso era bom e que iria ajudar no parto e bibibi. Como estava muito quente, achamos por bem de caminhar no shopping. Já que tínhamos que mesmo que caminhar, pelo menos lá tinha ar-condicionado. E assim o fizemos. Ou melhor, tentamos.
Nem bem saímos de casa e a Cris me disse:
- Estou sentindo uma coisinha estranha. Acho que preciso ir ao banheiro.
Voltamos para casa e ela foi ao banheiro. Mas não tinha vontade de nada, manja? Simplesmente ficou sentada, sentindo a coisinha estranha.
Pensei cá com meus botões:
- Santas fraldas descartáveis Batman, vai parir.
Peguei alguns documentos dela, a carteira do plano de saúde e rumamos ao Hospital Moinhos de Vento. Tranqüilos, conversando, falando sobre amenidades. Sem essa de respiração cachorrinho ou bolsa estourando. A única coisa estranha era a coisinha estranha.
Chegando ao hospital, a enfermeira a colocou numa maca, com aquela roupa linda, que deixa à mostra a bunda da pessoa, e foi monitorando os acontecimentos com um treco colado na barrigona, que ficava apitando e riscando um papel, apitando e riscando, apitandoeriscandoapitandoeriscando...
De repente, entra o médico e diz:
- Hum, sem dilatação. Pelo jeito ainda vai longe. Tu queres esperar umas cinco horas para ter dilatação ou vamos prá cesárea?
Como a Cris queria parto normal, sempre pensou em parto normal, recuperação rápida e talicoisa, falou sem receio, na bucha:
- Vamos prá cesárea.
- Pai (eu, no caso), pode ir até em casa buscar as coisinhas do bebê e a bolsa da mamãe, porque daqui a pouco vamos pra sala de cirurgia. Tu vais assistir ao parto?
- Claro que sim. Bamos nessa que to aqui pra isso... vou num pé e volto no outro – disse eu.
E assim foi. Busquei as coisinhas do bebê e a bolsa da mamãe, avisei ao cinegrafista, coloquei o filme na máquina (de fotografia) e rumei ao hospital.
Chegando lá, me mandaram trocar de roupa e colocar uma calça verde e uma camisa verde, igual às usadas pelos médicos, com direito a máscara na cara e tudo. Muito tri... Sabe, fiz vestibular prá medicina uma vez e, bom, é outra história.
Quando entrei na sala de parto, já estavam a meio caminho andado, inclusive com anestesia aplicada e primeiras camadas de barriga abertas. Puseram-me atrás de uma cortina verde, ao lado da cabeça da Cris, e gentilmente me avisaram:
- Não olha por cima da cortina. Não olha por cima da cortina. Tu não pode olhar por cima da cortina. E mais, nem pense em olhar por cima da cortina.
Mesmo assim eu olhava. E baixava a cortina. E o anestesista levantava a cortina e não me deixava olhar. E eu ainda assim baixava a cortina e olhava. E os médicos lá no lance do bisturi, corta, seca, limpa, gaze...
- Ei Márcio, vamos fazer uma parrillada lá em casa na sexta. Estás afim?
- Claro, que horas???
E assim foi por mais alguns minutos, até que ouvi:
- Tá vindo, tá vindo, prepara tudo, tá vindo, mais um pouquinho, calma, aí, agora vai...
- Inhéeeeeeeee... Inhéeeeeeeeeeee...
- Pega Márcio!!!! Pegou???
- Peguei, peguei. Vem com o tio Márcio...
- Inhéeeeeeeeeeee... Inhéeeeeeeeeeee...
E aí o Márcio a colocou junto com a Cris, o rostinho colado ao rosto da Cris. E então Cris disse:
- Oi filha, oi meu amor.! é a mamãe.!.
No mesmo instante a Júlia parou de chorar e olhou para a Cris. Foi incrível.
Foi um momento lindo, porque a Júlia sabia quem estava falando com ela, sabia que estava segura naquele lugar, que não precisaria se preocupar mesmo que aquele lugar não parecesse nem um pouco com o lugar quentinho em que ela estava minutos antes.
E eu chorando e tirando fotos. Nem via direito o que se passava porque os olhos estavam cheios de lágrimas. Só apontava a máquina e chorava. Chorava e tirava foto, chorava e tirava foto. Às vezes tirava foto e chorava. E enquanto chorava e tirava fotos, descobri que amar infinitamente é possível sim. Infinitamente multiplicado pelo infinito. É assim que eu amo minha filha. E assim, agradeço a ela por ter me escolhido para ser seu pai.

2 comentários:

Lazie Wouters disse...

Lindo depoimento Paulo!!!! Cara, como você escreve bem. Eu um dia espero ter um filho (ou filha) também... mas 1 só, porque os custos são altos né... se eu tiver melhor de vida, então 2... porque tem que ter um irmão ou uma irmã, de preferencia um casal. Ter irmãos é muito bom para o desenvolvimento emocional das crianças. Três filhos nunca, o do meio vai ser sempre problemático, e sete filhos jamais... já pensou se for sete homens ou sete mulheres? no caso dos homens o sétimo vira lobisomens, e no caso das mulheres a sétima vira bruxa, PIOR!!! no caso das mulheres imagina o falatório dentro de casa!!! rsrsrsrs
Tomara que a ciência evolua logo, assim eu poderia, tal qual Zeus fez, criar um filho na própria coxa... rsrrsr...

Dezã disse...

Paulo, quando li esse texto pela primeira vez, ainda não era pai. Achei um belo texto e entendi. Agora, lendo de novo, descobri duas coisas: a primeira é que o texto nem é tão bom assim e a segunda é que agora entendi de verdade. E entender de verdade fez o texto ficar num plano que jamais conseguirá se equiparar ao conteúdo.

..Assuntos (clique num assunto abaixo para filtrar os artigos):