sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

A mulher casada que morreu solteira! - Capítulo VI

Pois foi esta Mariana que foi encontrada sem vida em casa, numa tarde fria e chuvosa de agosto. Foi a Mariana de Olavo, a Mariana de porcelana chinesa, de olhos verdes como a grama, e que agora tão frios quanto o dia se encontravam.
Ninguém acreditou de pronto. Foi preciso que o próprio Olavo confirmasse o fato ao Padre, quando solicitou a ele que o acompanhasse até a delegacia para dar parte do infortúnio. Disse ele ao delegado:
“Cheguei a nossa casa e num primeiro relance não a vi. Procurei por todas as dependências, até que a vi no chão da cozinha, sem responder a meus chamados. Corri em sua direção, pois sabia que não era coisa normal de acontecer.
Quando cheguei próximo a ela foi que reparei o filete vermelho que se lhe escorria pelo ventre, como se fora um pequeno veio d’água que descobre o lado de cima da terra. Mal pude acreditar quando lhe toquei a face e vi como fria estava. Corri a vizinhança, mas ninguém me deu ouvidos. Nem mesmo a Tito encontrei. Estranhei, porque ainda ontem ele lá esteve dizendo que hoje, na tardinha, lá passava para ter conosco, que nossa prosa era a única coisa boa e decente que lhe acontecia.
Tentei em vão despertá-la. Não me respondia. Nem o mais fraco sinal de respiração. Seu coração já não contava mais com as marcações ritmadas que à noite, com o ouvido colado em seu seio esquerdo, me faziam pegar no sono. Ah! Pobre Mariana, minha Mariana. Que desgraça, seu Tobias, que desgraça!”
Nada do que o delegado Tobias lhe dissesse faria ele se acalmar. Nada. Nem mesmo quando Pedro do Moinho chegou com a notícia de que avistara Tito chegando a praça Olavo se acalmou. Permaneceu discursando ao delegado sobre a desgraça daquela hora. Falava sobre como foi feliz neste curto tempo enquanto viva ela estava. Falava e falava, e falava e falava. E depois, chorava e chorava a morte de sua amada.
Pedro do Moinho então falou a todos que ali estavam algo que tirou Olavo da penumbra da morte e o levou ao infinito da raiva.
- Tito achegou-se a praça, com as mãos e roupas sujas de sangue, e o olhar baço a fitar o vazio, falando coisas sem sentido a todo o povo que lá está.
- Como coisas sem sentido? Perguntou o delegado Tobias.
- Sem sentido – disse Pedro. Diz que foi pelas mãos dele que Mariana foi-se desta.
- O quê? O que dizes tu, Pedro? Perguntou Olavo, já vermelho de cólera.
Mas antes de Pedro do Moinho responder, Olavo saiu correndo até a praça pra ver do que Tito falava.
- Sim senhores - dizia Tito. Foi-se a mulher mais linda e generosa que esta velha cidade um dia conheceu! Mariana, linda Mariana. Esposa de Olavo, meu grande e único amigo. E foi por minhas mãos que o sopro do Divino de seu corpo foi tirado.
Pindarolas? Por quê Tito cometera esta atrocidade?

Saiba jajá, no capítulo final de A mulher casada que morreu solteira!

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